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Não consigo pensar em uma forma melhor de dar boas vindas a este espaço sem ser falando sobre o ensaio publicado na revista ARTNews em 1971 pela historiadora da arte, professora e escritora Linda Nochlin (1931-2017) denominado “Why Have There Been No Great Women Artists?” ou “Por que não existiram grandes artistas mulheres?”. O ensaio é a porta de entrada para as discussões acerca do papel das mulheres na arte e até hoje repercute em pesquisas sobre mulheres artistas e feminismo. Escrito há quase 50 anos e ainda atual, nele a autora retoma, de modo mais sistemático, questões importantes que Virginia Woolf já estava colocando em pauta, como se observa no texto “Profissões para Mulheres” lido para a Sociedade Nacional de Auxílio às Mulheres em 1931 e publicado postumamente em 1942. Linda questiona as metodologias tradicionais da história da arte e a construção de sua narrativa, problematizando a falácia da genialidade dos artistas e também os privilégios de gênero, frutos de uma sociedade alicerçada na opressão sistemática das mulheres em todas as suas complexidades de ser. A primeira tradução para o português foi feita e publicada em maio de 2016 pela @edicoesaurora , em meio ao golpe que destituiu do poder nossa primeira Presidenta eleita democraticamente, e pode ser acessada na íntegra em: http://www.edicoesaurora.com/ensaios/Ensaio6.pdf
Recentemente assisti ao documentário “!Women Art Revolution” (2010), dirigido por Lynn Hershman Leeson e me senti na obrigação de insistir para que todas as mulheres artistas assistam. O filme é composto por relatos de mais de 40 artistas responsáveis por construir a relação entre feminismo e artes visuais ao longo das décadas de 1960 a 1980 e é muito inspirador. Uma das coisas que mais me achou atenção é que eu conhecia muito pouco sobre Lynn Hershman Leeson e descobri que a artista viveu quase 10 anos (entre 1973 e 1979) como uma pessoa ficcional chamada Roberta Breitmore, a qual integrava a realidade de outras pessoas, enquanto estas participavam de sua ficção. Lynn afirma que Roberta era uma identidade fraturada, uma pessoa virtual, capturada num espaço de tempo, e que era a sua própria efigie ao avesso. Como um espelho da cultura, experienciando alienação, rejeição e solidão, a artista criou esta identidade e histórias ficcionais, de modo que o pessoal se tornou político, e o muito pessoal se tornou arte. A história de Lynn acaba se misturando com o próprio documentário. Em 1975 a artista chegou a vender algumas obras, que foram devolvidas quando o comprador descobriu que tinham sido feitas por uma mulher. Ela ficou 17 anos sem vender um único trabalho. Visando a preservação de suas obras, a artista as ofereceu em doação a um museu local, o qual rejeitou a oferta sob a justificativa de que “não era arte” e que ela “não sabia onde era seu lugar”. 35 anos depois os trabalhos foram avaliados em 9.000 vezes seu preço de venda original e a finalização do documentário foi possível.
Recentemente assisti ao documentário “!Women Art Revolution” (2010), dirigido por Lynn Hershman Leeson e me senti na obrigação de insistir para que todas as mulheres artistas assistam. O filme é composto por relatos de mais de 40 artistas responsáveis por construir a relação entre feminismo e artes visuais ao longo das décadas de 1960 a 1980 e é muito inspirador. Uma das coisas que mais me achou atenção é que eu conhecia muito pouco sobre Lynn Hershman Leeson e descobri que a artista viveu quase 10 anos (entre 1973 e 1979) como uma pessoa ficcional chamada Roberta Breitmore, a qual integrava a realidade de outras pessoas, enquanto estas participavam de sua ficção. Lynn afirma que Roberta era uma identidade fraturada, uma pessoa virtual, capturada num espaço de tempo, e que era a sua própria efigie ao avesso. Como um espelho da cultura, experienciando alienação, rejeição e solidão, a artista criou esta identidade e histórias ficcionais, de modo que o pessoal se tornou político, e o muito pessoal se tornou arte. A história de Lynn acaba se misturando com o próprio documentário. Em 1975 a artista chegou a vender algumas obras, que foram devolvidas quando o comprador descobriu que tinham sido feitas por uma mulher. Ela ficou 17 anos sem vender um único trabalho. Visando a preservação de suas obras, a artista as ofereceu em doação a um museu local, o qual rejeitou a oferta sob a justificativa de que “não era arte” e que ela “não sabia onde era seu lugar”. 35 anos depois os trabalhos foram avaliados em 9.000 vezes seu preço de venda original e a finalização do documentário foi possível.
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